Pelotas tem luz própria. Mas quando passa pelo olhar de Gustavo Vara, essa luz ganha profundidade, textura e memória. Em cada imagem registrada pelo fotógrafo, a cidade parece nos contar algo que estava guardado no silêncio das fachadas antigas, no entardecer sobre a Praça Coronel Pedro Osório, nos fios que cruzam o céu como costuras do tempo.
As fotos revelam muito mais do que paisagens urbanas: elas dialogam com a alma de uma cidade moldada pela força de suas tradições e pelo orgulho de sua cultura. A arquitetura eclética, os casarões do tempo do charque, os clubes históricos, as palmeiras solenes e os novos edifícios que se impõem no horizonte convivem em equilíbrio — ou em atrito — revelado com sutileza pelas lentes de Vara.
Seu olhar já está consolidado como parte da iconografia contemporânea da Princesa do Sul. Ele fotografa o passado presente, o presente em transformação e o futuro que se anuncia em andaimes, sombras e luzes que se esgueiram pelas esquinas. A cidade não é apenas cenário: é personagem principal.
Gustavo não corre atrás do espetáculo. Ele entende que a cultura vive nos detalhes. Nos prédios em ruínas que ainda resistem. No pôr do sol que pinta de dourado as colunas neoclássicas. Nos bancos de praça ocupados por conversas e silêncios. Nos mercados, nas igrejas, no céu que se colore como quem sussurra que ali existe história viva.
Seu trabalho é, ao mesmo tempo, documento e poesia visual. É um compromisso com a identidade pelotense e uma carta aberta a quem deseja entender — com os olhos e o coração — o que é viver em Pelotas.