O Olhar Consolidado de Gustavo Vara sobre Pelotas: Tradição, Cultura e Tempo

Pelotas tem luz própria. Mas quando passa pelo olhar de Gustavo Vara, essa luz ganha profundidade, textura e memória. Em cada imagem registrada pelo fotógrafo, a cidade parece nos contar algo que estava guardado no silêncio das fachadas antigas, no entardecer sobre a Praça Coronel Pedro Osório, nos fios que cruzam o céu como costuras do tempo.


As fotos revelam muito mais do que paisagens urbanas: elas dialogam com a alma de uma cidade moldada pela força de suas tradições e pelo orgulho de sua cultura. A arquitetura eclética, os casarões do tempo do charque, os clubes históricos, as palmeiras solenes e os novos edifícios que se impõem no horizonte convivem em equilíbrio — ou em atrito — revelado com sutileza pelas lentes de Vara.


Seu olhar já está consolidado como parte da iconografia contemporânea da Princesa do Sul. Ele fotografa o passado presente, o presente em transformação e o futuro que se anuncia em andaimes, sombras e luzes que se esgueiram pelas esquinas. A cidade não é apenas cenário: é personagem principal.


Gustavo não corre atrás do espetáculo. Ele entende que a cultura vive nos detalhes. Nos prédios em ruínas que ainda resistem. No pôr do sol que pinta de dourado as colunas neoclássicas. Nos bancos de praça ocupados por conversas e silêncios. Nos mercados, nas igrejas, no céu que se colore como quem sussurra que ali existe história viva.

Seu trabalho é, ao mesmo tempo, documento e poesia visual. É um compromisso com a identidade pelotense e uma carta aberta a quem deseja entender — com os olhos e o coração — o que é viver em Pelotas.
















 

O Rio Grande do Sul vive um tempo que exige olhar atento e memória visual. Depois da maior enchente da história do estado, os gaúchos agora enfrentam um 2025 marcado por um clima instável, dias imprevisíveis e um ciclo quase diário de nuvens carregadas seguidas por pores do sol de tirar o fôlego. A paisagem urbana, castigada e resiliente, tem sido testemunha silenciosa dessa transformação — e, através da fotografia, se transforma também em arquivo vivo do tempo que estamos atravessando.


As imagens captadas na tarde desta sexta-feira, 20 de junho, ilustram bem esse contraste. A cena é de uma rua qualquer, mas o céu não é comum. Um laranja profundo cobre os fios, galhos secos e silhuetas de motociclistas e pedestres — todos parecendo parte de uma coreografia ditada pela luz e pela urgência cotidiana. A beleza do pôr do sol não esconde o que veio antes: a manhã chuvosa, a lama, o alagamento, o medo.


Em 2025, falar sobre o tempo no Sul não é apenas sobre previsão meteorológica, mas sobre sobrevivência, adaptação e sensação. A cada entardecer, os moradores das cidades afetadas pelas chuvas sentem um misto de alívio e inquietação. É como se o céu, ao se abrir com essas cores intensas, quisesse nos lembrar que a beleza ainda está aqui — mas ela vem com um aviso.


A fotografia urbana ganha, nesse contexto, um papel de testemunho. Ela não apenas registra, mas interpreta. Cada fio atravessando o céu nas imagens, cada árvore seca, cada corpo em movimento sob a luz dourada, carrega uma narrativa maior: a de um estado que mudou, de um clima que se desestabilizou e de pessoas que, mesmo diante da imprevisibilidade, seguem — às vezes na pressa da entrega, outras voltando com sacolas de plástico nas mãos, entre sombras e esperança.


O Rio Grande do Sul de 2025 já não é o mesmo de antes. Mas, talvez, também nunca tenha sido tão urgente fotografar.







Sombras do Porto

    Volto ao antigo Porto de Pelotas como quem retorna a um sonho esquecido — ou a um pesadelo calado pelo tempo. A névoa que sobe do canal carrega um silêncio espesso, feito de história não contada, de vozes abafadas pelos armazéns que ainda resistem, cada tijolo sustentando um passado de glórias, dores e partidas.


É ali, entre ferrugens e janelas quebradas, que a fotografia em preto e branco ganha sentido. A cor, por mais vibrante que fosse, não daria conta do peso daquele lugar. É a ausência dela que permite ver melhor. Sombras profundas, texturas rugosas, reflexos turvos — tudo parece pedir silêncio e atenção.


No enquadramento, o Porto revela sua alma: um cais que já foi linha de frente do progresso, hoje afogado na margem do esquecimento. A luz que entra de lado desenha memórias nas paredes, enquanto a água parada sussurra histórias que ninguém mais quer ouvir.


Cada clique da câmera é quase um pedido de desculpas. Pela pressa com que viramos as costas para o que já foi essencial. Pela memória coletiva que evapora. Pela beleza melancólica que poucos param para enxergar.


Ali, o tempo anda devagar. E a fotografia também. Observo, respiro, escuto. E só então aperto o disparador.

Porque nesse Porto sombrio e nostálgico, até a sombra tem história.













 

Corpus Christi


No feriado de Corpus Christi, enquanto a maioria descansou ou viajou, eu e o @brumlucian decidimos sair pra rua com nossas câmeras. Dois fotógrafos inquietos, teimosos — desses que não sossegam quando sentem que há algo no ar pedindo pra ser fotografado.


Não combinamos roteiro nem expectativa. Apenas a vontade de fotografar nos guiou. Cada um com sua câmera, seu olhar e seu tempo. Mas havia algo em comum: o desejo de fazer valer aquele dia. E fizemos.


Enquanto o vento soprava e as nuvens iam desenhando seus contrastes no céu, nossos olhos iam pescando cenas silenciosas que, no fundo, gritavam. Foi daqueles dias em que a cidade parece colaborar com o fotógrafo. Um detalhe de luz aqui, um personagem ali, uma composição que se monta em segundos — e se desfaz no mesmo ritmo.


As fotos estão documentadas e arquivadas como devem ser: com cuidado, respeito ao momento e prontas pra contar sua parte da história. E assim seguimos — firmes, atentos, apaixonados por esse ofício que não nos deixa parar nem nos feriados.


— Gustavo Vara

Fotógrafo inquieto por natureza

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Acústicos Engenheiros do Hawaii

    Trabalhar com o Humberto Gessinger e sua equipe há tantos anos é, pra mim, mais do que um privilégio — é uma honra que carrego com gratidão em cada clique. São jornadas e reencontros que me lembram por que escolhi a fotografia como forma de vida: registrar momentos que têm alma, que têm história, que ressoam como versos e acordes.


Neste fim de semana, no Teatro Guarany, vivi novamente essa emoção. Duas noites de casa lotada, público vibrando, cada detalhe do cenário e da luz conspirando a favor da música e da imagem. E, como sempre, fui recebido com carinho, respeito e total liberdade para criar. Isso faz toda a diferença — e é raro.


As fotos já foram enviadas, mas a memória dessas noites permanece comigo. Segue sendo uma experiência imensa estar diante de um artista como o Humberto, que carrega décadas de estrada e, transborda generosidade e profissionalismo.