O Rio Grande do Sul vive um tempo que exige olhar atento e memória visual. Depois da maior enchente da história do estado, os gaúchos agora enfrentam um 2025 marcado por um clima instável, dias imprevisíveis e um ciclo quase diário de nuvens carregadas seguidas por pores do sol de tirar o fôlego. A paisagem urbana, castigada e resiliente, tem sido testemunha silenciosa dessa transformação — e, através da fotografia, se transforma também em arquivo vivo do tempo que estamos atravessando.
As imagens captadas na tarde desta sexta-feira, 20 de junho, ilustram bem esse contraste. A cena é de uma rua qualquer, mas o céu não é comum. Um laranja profundo cobre os fios, galhos secos e silhuetas de motociclistas e pedestres — todos parecendo parte de uma coreografia ditada pela luz e pela urgência cotidiana. A beleza do pôr do sol não esconde o que veio antes: a manhã chuvosa, a lama, o alagamento, o medo.
Em 2025, falar sobre o tempo no Sul não é apenas sobre previsão meteorológica, mas sobre sobrevivência, adaptação e sensação. A cada entardecer, os moradores das cidades afetadas pelas chuvas sentem um misto de alívio e inquietação. É como se o céu, ao se abrir com essas cores intensas, quisesse nos lembrar que a beleza ainda está aqui — mas ela vem com um aviso.
A fotografia urbana ganha, nesse contexto, um papel de testemunho. Ela não apenas registra, mas interpreta. Cada fio atravessando o céu nas imagens, cada árvore seca, cada corpo em movimento sob a luz dourada, carrega uma narrativa maior: a de um estado que mudou, de um clima que se desestabilizou e de pessoas que, mesmo diante da imprevisibilidade, seguem — às vezes na pressa da entrega, outras voltando com sacolas de plástico nas mãos, entre sombras e esperança.
O Rio Grande do Sul de 2025 já não é o mesmo de antes. Mas, talvez, também nunca tenha sido tão urgente fotografar.
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