O Fotógrafo e o Tempo Presente


Por Gustavo Vara

2025 não é só mais um número na cronologia — é um espelho. Um ano em que tudo parece intensificado: a tecnologia, os conflitos, a urgência climática, os silêncios das ruas e o ruído incessante das redes. Fotografar neste tempo é, para mim, mais do que registrar cenas; é tentar compreender um país em transição, uma cidade em suspenso e um sujeito — eu — em constante reinvenção.

Pelotas sempre foi meu território de olhar. Aqui construí minha linguagem, entre o barro dos casarões, as feiras da praça, os rostos marcados pelo tempo e os gestos de resistência que encontro todos os dias. A cidade me ensinou que o cotidiano não é banal: ele é denso, simbólico e profundamente revelador. Basta estar atento.

Hoje, ao sair com a câmera, não procuro o espetáculo. Procuro os traços da transformação. Um cartaz rasgado de protesto. Um comerciante fechando as portas mais cedo. Jovens reunidos com os olhos vidrados em seus celulares, mas desconfiados da promessa digital. O Brasil de 2025 é um país que pulsa entre esperanças e fraturas — e cabe ao fotógrafo a tarefa ingrata (mas necessária) de revelar o que muitas vezes se quer esconder.

A fotografia, nesse cenário, é resistência. É gesto político. É escolha ética. Não fotografo para agradar algoritmos. Fotografo para lembrar que estamos vivos, que há beleza e luta no ordinário, e que a história se escreve também nos pequenos gestos.

Enquanto o mundo corre, sigo caminhando devagar pelas calçadas de Pelotas. Escuto, observo, espero. Porque o instante decisivo, hoje, talvez não esteja no clique perfeito — mas na coragem de permanecer olhando.


 

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