A fotografia de rua, pra mim, nunca foi sobre a grande cena. Ela mora no detalhe, naquele segundo em que o sol atravessa uma vidraça, num gesto esquecido na calçada, no reflexo de uma vitrine que ninguém notou. Eu não chego com roteiro. Só saio por aí, com a câmera em mãos e a escuta aberta ao silêncio das ruas.
A maioria segue com pressa, cumprindo horários, desviando de buracos e pensamentos. E é justamente nesse ruído da rotina que eu encontro as imagens que me comovem. Um muro descascado que vira textura. Um velho sentado sozinho comendo bergamota. A sombra de uma árvore desenhada no concreto. Tudo isso é um presente — desses que ninguém embrulha, mas que a cidade oferece, todos os dias, pra quem souber olhar.
Minha fotografia é despretensiosa. Não procura aplauso, só memória. Registro o que está ao meu alcance. Às vezes penso que fotografo pra lembrar a mim mesmo que ainda existe beleza no banal, poesia no que passa despercebido.
E se, ao olhar uma dessas imagens, alguém sentir o tempo desacelerar por um instante, então valeu a pena ter parado.
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